domingo, 31 de dezembro de 2023

Crônica: Opinião impopular de um homem (muito) chato


Véspera de Ano Novo (c. 1876), litografia americana.

João Medeiros

É verdade que eu não gosto das comemorações de ano novo, isto todos já cansaram de saber, mas ao longo deste ano adquiri um novo olhar sobre o significado deste festejo. O desgosto pelas comemorações em geral permanece, mas não mais pela festa em si mesma, que ganhou para mim um significado antes inexistente. O argumento chestertoniano de que o objetivo do ano novo [...] é que tenhamos uma alma nova” (cf. CHESTERTON, January One, 1904) finalmente me convenceu.

Ordinariamente, as comemorações possuem uma barulheira miserável e os piores ruídos para os ouvidos. Tudo produzido no quinto dos infernos, com toda a certeza. O meu desgosto de tais comemorações advém, de modo geral, de meu desprezo pelo barulho e pela baderna; no fundo, de meu desprezo da modernidade neopagã. Em todas estas comemorações urbanas, permaneço com Figueiredo, o último dos presidentes militares: prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo.

Entretanto, Deus dispôs o tempo com tal ordem que o objetivo da comemoração de um novo ano é o de que sejamos simbolicamente lembrados com certa periodicidade, pelo completar de cada translação em torno do sol, da necessidade do despir do homem velho e pecaminoso a fim de que sejamos revestidos do homem novo, redimido pela graça de Deus.

E assim revestidos do homem novo, a comemoração em família e/ou com bons amigos, vem também a redimir o comemorar deste festejo, e trazer uma boa razão para comemorá-lo em meio à multidão de ruindades ao nosso redor. Pois, afinal, estar em boa companhia é sempre bom, e nada como comemorar cristãmente com verdadeira alegria, dando graças pelas felicidade e também pelas infelicidades (cf. Jó II, 12) que se passaram.

Longe do caos urbano e distante do barulho de fogos ou de dejetos auditivos, subsistem as excelentíssimas piadas ruins, as boas companhias, e a esperança contra toda a esperança ancorada em Jesus Cristo, Ele que "renova todas as coisas" (cf. Ap XXI, 5) e que se basta e permanece enquanto todo o resto passa, incluindo o tempo que se finda no limiar de cada ano.

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