domingo, 30 de junho de 2019

Artigo: O homem e o mundo, parte I


Si mundus vos odit, scitote quia me priorem vobis odio habuit.
— Evangelho de São João XV, 18

“Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro odiou a mim.”, é esta frase do Evangelho citado que, em latim, como logo acima, serve de lema para este blogue. Está no subtítulo, pouco abaixo de Adversus Modernitatem. Foi a escolha para permanecer destacada em nosso blogue, pois não há nada que melhor represente o apartar entre o cristão e o mundo.

Nosso Senhor continua: “Lembrai-vos daquilo que eu vos disse: 'O servo não é maior que seu senhor'. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós.” (cf. Jo XV, 18-21). O cristão que se preze, melhor ainda, que preze e zele pelo Credo da Santa Religião que professa - a Religião Católica - não pode esperar nada além deste mundo que não seja o desprezo.

O Catecismo Romano, promulgado por ordem do Concílio de Trento, define com bastante simplicidade a relação entre a Igreja e o mundo: “A Igreja Militante é a Sociedade de todos os fiéis que ainda vivem na terra. Chama-se militante porque está obrigada a manter uma guerra incessante contra os mais cruéis inimigos: o mundo, a carne e o Diabo”. Estes três inimigos da Igreja são também inimigos das nossas almas, e devemos combatê-los no bom combate. Conforme dizia São Jerônimo, devemos empregar todo o nosso zelo em fazer dos inimigos da Igreja nossos inimigos pessoais.

Entretanto, para não haver confusões, são necessárias distinções de alguns dos significados. Mundo deve ser entendido não como a terra em que habitamos e vivemos, tampouco nos referimos ao mundo como a criação de Deus e as demais criaturas, que devemos amar, cuidar, zelar e desenvolver, para devolvê-lO futuramente; mas como a organização polarizada de homens que odeiam os cristãos - e o Cristo - e buscam descristianizá-los e desumanizá-los, pois quanto mais um homem é cristão, mais plenamente ele é homem; e fazer com os cristãos reneguem o Santíssimo Nome de Nosso Senhor para que tenham aqui todos os confortos e regalias com que tentam envenená-los. Carne aqui, como nós já explicamos anteriormente em duas ocasiões (cf. O sofrimento e a Cruz e Caridade, pureza e morte), não é no sentido de corpo ou de sexo, mas da atitude do amor próprio, das tendências concupiscentes e paixões desordenadas derivadas da ferida do pecado original, e que incentivam o homem a receber as seduções e prazeres do mundo numa realidade puramente materialista.

Desde o autoproclamado Renascimento, os homens passaram a buscar com mais ímpeto a destruição da Igreja. No quase milenar período entre 476 e 1453, ao qual os renascentistas pejorativamente denominaram como “Idade Média”, a cosmovisão dos homens era cristã. Da aurora ao pôr do sol tinham o divino em mente. Foram os homens das impressivas arquiteturas românica e gótica, do canto gregoriano e da genial Escolástica classificados como “nada” pelos falsários do Renascimento.

E então vieram os deformadores para dividir a Cristandade, e depois deles os iluministas, que, obscurantistas, resolveram cunhar o termo “Idade das Trevas” para o desígnio da Cristandade pós-romana. Foram estes que com suas falsas ideias dirigiram o mundo para o precipício com a Revolução Francesa, fundaram a Civilização Liberal e suas várias correntes: liberais, socialistas, comunistas, fabianos, pós-modernos e todas as demais falsas.

De tal maneira, estes homens desumanizados e mundanos perseguem cada vez mais descaradamente a Santa Madre Igreja que Nosso Senhor fundou. O mundo odeia o Corpo de Cristo e, consequentemente, também a Cabeça. E odiando a Nosso Senhor Jesus Cristo, odeiam o Pai (cf. Jo XV, 23) e o Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho.

O homem moderno cria leis iníquas, aprova e incentiva as mais diversas malignidades, tudo em nome de uma “sociedade perfeita onde todos possam ser felizes”, falseando e ocultando o verdadeiro sentido da felicidade. Adorador do dinheiro, da luxúria, da morte, da ideologia e da perversidade; o homem moderno tenta nulificar Deus e ocultá-Lo, mas a verdade é que busca sê-Lo. Na tentativa de criar uma utopia, fundam a mais perversa distopia.

E os católicos devemos nos levantar contra esta abominação fundada pelo homem moderno, contra esta Civilização Liberal, e devemos fazê-lo por princípio, dever e regra irrenunciável, não só do direito canônico, mas de todos os católicos, impresso na alma de cada batizado: salus animarum suprema lex - a salvação das almas é a lei suprema. Levantemos e, tendo consciência deste dever, lutemos pela restauração de todas as coisas em Cristo, regenerados n'Ele e para Ele, para devolvê-Lo o trono e coroa que Lhe é de direito e que esta Civilização Liberal iníqua busca usurpar (cf. O laicismo e o Reinado).

Contraditória Civilização Liberal, que mais se assemelha à selvageria e ao barbarismo com sua “liberdade” que escraviza, que busca impedir o homem de atingir a verdadeira liberdade, possível somente em Cristo: a liberdade das trevas do pecado.

A Civilização Liberal oferece o paraíso que não pode dar e tudo o que consegue entregar é um prólogo do inferno, para o qual deseja arrastar consigo o máximo de almas que conseguir. Enfrentemo-la corajosamente, com o auxílio da Santíssima Virgem, carregando o estandarte da Santa Cruz de Nosso Senhor.

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