domingo, 24 de março de 2019

Artigo: O laicismo e o Reinado


“Porque é necessário que Ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés.”
— I Coríntios XV, 25
Cristo é Rei. Assim o próprio Senhor afirmou nas Sagradas Escrituras, e assim a Santa Igreja incessantemente tem repetido através dos séculos em suas declarações. Mas com as três grandes revoluções que aconteceram ao longo do Segundo Milênio - a Revolução Protestante, a Revolução Francesa e a Revolução Russa, sequências da Rebelião de Lúcifer -, esta Verdade de Fé vem sendo atentada por todos os lados na modernidade, até mesmo por aqueles que se dizem católicos.

O Concílio de Trento infalivelmente definiu que, para o ranger de dentes dos liberais, “Se alguém disser que Jesus Cristo foi dado por Deus aos homens [só] como Redentor em quem devem crer, e não também como Legislador a quem devem obedecer — seja anátema.” (cf. TRENTO, Sessão VI, Cânon 21, 1546). Muitos que se dizem católicos utilizam de uma interpretação falsa e herética do dito por Nosso Senhor, “O meu Reino não é deste mundo”. Seu Reino não é deste mundo, pois não possui origem ou raiz neste mundo, mas origem divina. Toda a autoridade Lhe foi dada no céu e na terra (cf. Mt XXVIII, 18), e sua autoridade foi temporalmente continuada por São Pedro e seus sucessores.

Como toda a autoridade Lhe foi dada, engana-se quem pensa que o Reinado de Nosso Senhor abrange somente as nações católicas ou os batizados. Seu poder estende-se de forma que abarca todo o gênero humano (cf. LEÃO XIII, Annum Sacrum, 1899), e por isto o dever apostólico de ensino e conversão de todas as nações conforme a ordem dEle. Nas palavras do grande Papa São Pio X, “é por isto que o fito para o qual devem convergir todos os nossos esforços é reconduzir o gênero humano ao império de Cristo.” (cf. enc. E Supremi, 1903). E reconduzir o gênero humano ao império de Cristo nada mais é do que reconduzi-lo à Santa Igreja. Ela é a via que nos dá acesso a Jesus Cristo através dos Santos Sacramentos.

O Reinado Social de Cristo, tão detestado pela modernidade, acontece visivelmente na Igreja, Corpo Místico de Cristo, no triplo múnus de governo, ensino e santificação, na pessoa de seu Vigário, o Santo Papa, cabeça visível da Igreja - o Doce Cristo na Terra, segundo as palavras de Santa Catarina de Siena. Conforme o ditado latino: ubi Petrus, ibi Ecclesia; ubi Ecclesia, ibi Christus - onde está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja, está Cristo.

Assinala o Papa Pio XI que “Jesus Cristo reina sobre a sociedade quando os homens reconhecem e reverenciam a soberania de Cristo; onde a posição que Ele mesmo designou para Sua Igreja é reconhecida na sociedade.” (cf. enc. Ubi Arcano Dei Consilio, 1922). Como podem então católicos tornarem-se defensores do liberal Estado laico? Os católicos devemos prezar pelo Estado Católico e lutar para que seja restaurado.

O mesmo Papa Pio XI promulgou sua monumental carta encíclica Quas Primas no ano de 1925, onde escreveu justamente sobre a primazia e o Reinado de Nosso Senhor sobre todas as coisas, e cito aqui alguns excertos:
“Não podem, pois, os homens de governo recusar à soberania de Cristo, em seu nome pessoal e no de seus povos, públicas homenagens de respeito e submissão.”
Peste de nossos tempos é o chamado “laicismo”, com seus erros e atentados criminosos. [...] Começou-se, primeiro, a negar a soberania de Cristo sobre todas as nações; negou-se, portanto, à Igreja o direito de doutrinar o gênero humano, de legislar e reger os povos em ordem à eterna bem-aventurança. Aos poucos, foi equiparada a religião de Cristo aos falsos cultos e indecorosamente rebaixada ao mesmo nível. Sujeitaram-na, em seguida, à autoridade civil, entregando-a, por assim dizer, ao capricho de príncipes e governos. Houve até quem pretendesse substituir à religião de Cristo um simples sentimento de religiosidade natural. Certos estados, por fim, julgaram poder dispensar-se do próprio Deus e fizeram consistir sua religião na irreligião e no esquecimento consciente e voluntário de Deus.
Com efeito, quanto mais vergonhosamente se passa em silêncio, quer nas conferências internacionais, quer nos Parlamentos, o nome suavíssimo do nosso Redentor, tanto mais alto o devemos aclamar, tanto mais devemos reconhecer os direitos que a Cristo conferem sua dignidade e poder real.”
 — PIO XI, Quas Primas, 1925
É, portanto, contraditório proclamar-se católico e defender o Estado laico. É cair no 55° erro denunciado e condenado pelo Bem-aventurado Papa Pio IX no Syllabus Errorum e na encíclica Quanta Cura, em 1864, de que a Igreja deve estar separada do Estado.

Conforme escreveu São Pio X:
“A sociedade não será edificada se a Igreja não lhe lançar as bases e não dirigir os trabalhos; não, a civilização não mais está para ser inventada nem a cidade nova para ser construída nas nuvens. Ela existiu, ela existe; é a civilização cristã, é a cidade católica. Trata-se apenas de instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundamentos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: omnia instaurare in Christo - tudo restaurar em Cristo.”
 — PIO X, Notre Charge Apostolique, 1910
São possíveis duas escolhas: servir a Deus e carregar o estandarte da Cruz pela restauração de todas as coisas em Cristo e por Seu Reino; ou servir aos interesses materialistas, sejam estes liberais ou socialistas: é atender o eco do non serviam luciferino. É lutar pela Cidade Terrena, dos homens, ou pela Cidade Celeste, de Deus.

Os católicos devemos vigorosamente combater pela reta ordenação do homem a Deus, da criatura ao Criador. A sociedade civil, o Estado, também é criatura criada por Deus, afinal, Ele criou o homem como animal social e que necessita da sociedade para sua perfeita provisão. Ao criar o homem, também foi criada por Deus a sociedade. E neste reto ordenar, no instaurar de todas as coisas em Cristo, o Estado e Igreja devem estar unidos - Estado Católico - sem se confundirem e serem distintos sem separação, com o Estado ordenado e submisso à Igreja e às suas leis, prostrado diante de Cristo Rei, pois “a liberdade consiste em que, com o auxílio das leis civis, possamos mais facilmente viver segundo as prescrições da lei eterna.” (cf. LEÃO XIII, Libertas Praestantissimum, 1888)

Profeticamente escreveu São Pio X em 1906, tratando sobre a separação da Igreja e Estado na França:
“Que seja preciso separar o Estado da Igreja, é esta uma tese absolutamente falsa, um erro perniciosíssimo. Com efeito, baseada nesse princípio de que o Estado não deve reconhecer nenhum culto religioso ela é, em primeiro lugar, em alto grau injuriosa para com Deus; porquanto o Criador do homem também é o Fundador das sociedades humanas, e conserva-as na existência como nos sustenta nelas. Devemos-lhe, pois, não somente um culto privado, mas um culto público e social para honrá-lo.
Além disto, essa tese é a negação claríssima da ordem sobrenatural. De feito, ela limita a ação do Estado à simples demanda da prosperidade pública durante esta vida, a qual não passa da razão próxima das sociedades políticas; e, como que lhe sendo estranha, de maneira alguma se ocupa da razão última delas, que é a beatitude eterna proposta ao homem quando esta vida, tão curta, houver findado. E, no entanto, achando-se a ordem presente das coisas, que se desenrola no tempo, subordinada à conquista desse bem supremo e absoluto, não somente o poder civil não deve obstar a essa conquista, mas deve ainda ajudar-nos nela.
Essa tese subverte igualmente a ordem muito sabiamente estabelecida por Deus no mundo, ordem que exige uma harmoniosa concórdia entre as duas sociedades. Essa duas sociedades, a sociedade religiosa e a sociedade civil, têm, com efeito, os mesmos súditos, embora cada uma delas exerça na sua esfera própria a sua autoridade sobre eles. Daí resulta forçosamente que haverá muitas matérias que elas ambas deverão conhecer, como sendo da alçada de ambas. Ora, venha a desaparecer o acordo entre o Estado e a Igreja, e dessas matérias comuns pulularão facilmente os germes de contendas, que se tornarão agudíssimos dos dois lados; a noção da verdade será, com isso, perturbada, e as almas ficarão cheias de grande ansiedade. 
Finalmente, essa tese inflige graves danos à própria sociedade civil, pois esta não pode prosperar nem durar muito tempo quando não se dá nela o seu lugar à religião, regra suprema e soberana senhora quando se trata dos direitos do homem e dos seus deveres.
— PIO X, Vehementer Nos, 1906
A cidade de Deus ou a cidade dos homens, a Jerusalém Celeste ou o Inferno, Cristo ou Satanás - o primeiro liberal -, não se pode servir a dois senhores.
“Se a natureza e a razão impõem a cada um a obrigação de honrar a Deus com um culto santo e sagrado, porque nós dependemos do poder dele e porque, saídos dele, a Ele devemos tornar, à mesma lei adstringem a sociedade civil. Realmente, unidos pelos laços de uma sociedade comum, os homens não dependem menos de Deus do que tomados isoladamente; tanto, pelo menos, quanto o indivíduo, deve a sociedade dar graças a Deus, de quem recebe a existência, a conservação e a multidão incontável dos seus bens. É por isso que, do mesmo modo que a ninguém é lícito descurar seus deveres para com Deus, e que o maior de todos os deveres é abraçar de espírito e de coração a religião, não aquela que cada um prefere, mas aquela que Deus prescreveu e que provas certas e indubitáveis estabelecem como a única verdadeira entre todas, assim também as sociedades não podem sem crime comportar-se como se Deus absolutamente não existisse, ou prescindir da religião como estranha e inútil, ou admitir uma indiferentemente, segundo seu beneplácito. Honrando a Divindade, devem elas seguir estritamente as regras e o modo segundo os quais o próprio Deus declarou querer ser honrado. [...] Quanto à Igreja, que o próprio Deus estabeleceu, excluí-la da vida pública, das leis, da educação da juventude, da sociedade doméstica, é um grande e pernicioso erro. Uma sociedade sem religião não pode ser bem regulada; e, mais talvez do que fora mister, já se vê o que vale em si e em suas conseqüências essa pretensa moral civil.”
— LEÃO XIII, Immortale Dei, 1885 
Nem laicismo, nem “sã” laicidade: Ele, Cristo, é Rei e deve reinar. E esse Reinado deve começar em nossas almas ao viver na graça, entronizando o Cristo Rei nas famílias e trabalhando pela conversão das sociedades, para que Ele seja verdadeiramente reconhecido e elas sejam submetidas a Ele. E todos devemos fazê-lo.

“Os fiéis cristãos, membros de um organismo vivo, não podem ficar encerrados em si mesmos e acreditar que basta ter pensado e providenciado sobre as próprias necessidades espirituais para ter cumprido todo o seu dever. Em vez disso, cada um por sua própria parte deve contribuir para o incremento e para a difusão do Reino de Deus na terra.”
— JOÃO XXIII, Princeps Pastorum, 1959
Cristo é Rei não somente dos indivíduos, mas também das sociedades, das nações e dos Estados. É o Rei cujo Reinado é supremo no céu e também deve ser sobre a terra, porque o Pai deu-Lhe toda a autoridade (cf. Mt XXVIII, 18) e o constituiu herdeiro de todas as coisas (cf. Hb I, 1). É o Rei que tem como trono a Santa Cruz, que devemos abraçar.
“O Reino de Cristo, Senhor nosso, é não só espiritual, mas também temporal; e o pensava assim pelas Escrituras e Santos Padres, como, também, pela razão da união apostólica; e porque seria grande absurdo o julgar que Cristo, Senhor nosso, não teve tanto domínio quanto teve Adão.” 
 — Padre Antônio Vieira
Muitos lutaram ardorosamente pelo Reinado de Nosso Senhor durante a história, mas faço especial menção aos bravos cristeros do México, que lutaram a Guerra Cristera -  também conhecida como Cristiada - ao fim da década de 1920, justamente chamada assim pelos cristeros carregarem como bandeira e estandarte a Cruz de Nosso Senhor e a luta pelo seu Reinado Social ante os liberais e maçons que governavam o México e desejavam ser maiores que o Senhor dos Exércitos e Sua Igreja. Tomemo-los como exemplos para a nossa luta por Nosso Senhor e, como eles, lutemos o bom combate, na paz ou na guerra, pela honra e glória de Cristo Rei!

VIVA CRISTO REI!

sexta-feira, 15 de março de 2019

Crônica: O sofrimento e a Cruz


Não é natural ao homem que abrace o sofrimento e as dores, sua tendência é a fuga para o conforto, para o bem-estar e para o prazer – mesmo o prazer desregrado ou que atente contra sua própria natureza. Também não é natural que o homem se alegre com o sofrimento, pelo contrário, tende a amuar-se ou enraivecer-se com aquilo que vê como imposto por algo ou alguém. A Santa Paixão de Nosso Senhor, porém, dá novos sentidos e significados para as dores, as derrotas e o sofrimento.

Por más línguas durante a história, as cruzes tornaram-se todas as coisas desagradáveis que acontecem na vida, mas isto não pode continuar. Celebramos no dia 14 de Setembro a Festa de Exaltação da Santa Cruz, cujo o introito nos apresenta: Nos autem gloriari oportet in Cruce Domini nostri Jesu Christi: in quo est salus, vita, et resurrectio nostra; per Quem salvati, et liberati sumus - Nós porém devemo-nos gloriar na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Quem nos vem a salvação, a vida e a ressurreição; por Quem fomos salvos e livres -, portanto, exaltemos a Cruz e sejamos submissos, pois o jugo d'Aquele que abraçou-lhe é suave e seu fardo é leve, porque Ele é manso e humilde de coração.

A alegria cristã tem um caráter que é sobrenatural. Seu fundamento, rocha e pedra angular não é o homem, mas Deus. “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, irá salvá-la.” (Lc IX, 23-24), estas são as palavras de Nosso Senhor. Palavras que parecem duras àquele que teme a Cruz, mas que em verdade são palavras de amor e de alegria. Alegria sobrenatural.

Quando o Senhor diz “renegue-se a si mesmo”, fala-nos da mortificação. Aquele que não quiser renegar-se e renunciar a si mesmo jamais poderá ser santo, pois a mortificação é um elemento essencial da vida cristã. A modernidade tende a vê-la com maus olhos em sua busca insaciável pelo prazer carnal e material justamente porque a mortificação se opõe diametralmente à vida desregrada, que não quer renúncias, mas posses. Mortificar é renunciar, por amor a Deus; é regenerar-se em Cristo. Indo além, é seguir também o próprio Deus encarnado nos exemplos que nos deu durante sua vida.

A mortificação, em suas diversas formas, é uma necessidade para o homem cristão, não somente para reparar as ofensas a Deus, mas para purificar-se, alcançar as virtudes, santificar-se, tendo como fim dar glória a Deus. É isto que exorta São Paulo ao dizer “afeiçoar-vos às coisas lá de cima, e não às da terra” (cf. Cl III). Mortificar-se é estar unido à Paixão de Nosso Senhor; é pôr em ordem e harmonia os afetos e paixões para acabar com o egoísmo e apegos mundanos, e assim retificar o amor para amar o Amor, para tudo fazer em nome d'Ele. É vencer-se a si mesmo com ânimo nas pequenas coisas para também saber fazê-lo nas grandes, sempre entregue à vontade divina. É, de certa maneira, tomar cruzes para viver pela Cruz, despindo-se do homem velho e revestindo-se do homem novo.

Aceitemos com alegria as dificuldades, tendo consciência de que tal como a Mãe de Deus acompanhou Jesus durante toda a sua vida, também está a acompanhar-nos nas nossas. Como os sertanejos em suas durezas, apelemos com simplicidade e filial confiança: valei-me Nossa Senhora! Rogando a Mãe Santíssima, sejamos alegres na Cruz, para abraçar-lhe como Nosso Senhor a abraçou, agarrando-se nela esperançosos e com a máxima força possível, para dela nunca soltar-se. 

A alegria da ressurreição só é possível depois da dolorosa Paixão: é fruto da dor da Cruz. São Josemaría Escrivá escreveu: “A Cruz não é a pena, nem o desgosto, nem a amargura... É o madeiro santo onde triunfa Jesus Cristo..., e onde triunfamos nós, quando recebemos com alegria e generosamente o que Ele nos envia.” (Forja, 788). Aquele que busca estar na Glória com Deus deve amar a Cruz, pois ela não só é compatível à alegria da Ressurreição, mas a precede pela Paixão.

Santo Madeiro que abraçou-se ao Cristo e por Ele foi abraçado: de símbolo de castigo foi convertido em sinal de vitória; de bandeira da morte tornou-se a via da salvação. Nulla dies sine Cruce, in laetitia! - Nenhum dia sem Cruz, com alegria!

Abraçados à Santa Cruz, gloriemo-nos n'Ela. Stat Crux dum volvitur orbis - A Cruz permanece intacta enquanto o mundo gira. Salve, Cruz vitoriosa e bendita!

terça-feira, 12 de março de 2019

Artigo: Eis o Cordeiro!

 Agnus Dei (c. 1635-1640, óleo sobre tela), de Francisco de Zurbarán
"Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. Ele não abriu a boca."
— Isaías LIII, 7
O profeta Santo Isaías descreveu com perfeição e exatidão, inspirado pelo Santo Espírito, aquele que viria a ser o ápice da demonstração de amor de Deus pelo homem: a morte do próprio Deus, na Cruz, para que o homem pudesse viver plenamente. O supremo ato de amor que consumou a derrota da morte em definitivo. O Amor morreu de amor. Anunciou São João Batista: Ecce Agnus Dei, ecce qui tollit peccata mundi – Eis o Cordeiro de Deus, eis O que tira o pecado do mundo.

É a grande provação que o Homem-Deus enfrentou pelos castigos dos homens e que o homem deve enfrentar para merecer o Homem-Deus, inabalavelmente buscando-O com tudo o que tem, com toda a força e inteireza de seu ser. Porque ainda hoje, "nós pregamos o Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos" (I Cor I, 23). Loucura que mais de dois mil anos depois continua para os pagãos da modernidade, que com suas contradições rejeitam a Cruz e querem estar na glória; que rejeitando a morte pretendem a salvação.

Pagãos que, como disse Dom Antônio de Castro Mayer, pretendem dulcificar o Cristianismo retirando justamente Aquele que é doce e suave. Retirando do centro Aquele que é e deve sempre ser o Centro.

Nos Evangelhos, Nosso Senhor nos ensina que Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida. Pois como querem então a Vida trilhando por outro caminho, por outra via, pregando falsas verdades? Em sua dolorosa Paixão e morte na Cruz, Nosso Senhor nos dá o exemplo de como trilhar este caminho verdadeiro para a Vida: é a porta estreita pela qual devemos fazer todo o esforço possível, pela qual devemos renunciar à mundanidade, aos pecados e iniquidades, e aceitar integralmente a Cristandade. O Cordeiro sacrificou-Se para o santo banquete, mas não podem participar deste banquete aqueles que não desejam o sacrifício, abnegação e santificação para poder recebê-lO.

Faz-se necessário percorrer a Via Crucis tomando cada um a sua cruz, renunciando a si mesmo e seguindo-O no Caminho da Cruz que Ele mesmo percorreu enquanto carregava o peso dos nossos pecados. É a via necessária para tornar-se um alter Christus, um outro Cristo, para que não mais vivamos, mas Cristo viva em nós. Sem cruz? Sem renúncia? Sem amor. Sem Cristo.

quarta-feira, 6 de março de 2019

Artigo: A megalomania do pó


Nada mais distante da verdadeira grandeza que a megalomania, mania de grandeza típica de Satanás – que pensou ser maior que Deus – e da modernidade, parideira do iluminismo, do materialismo, do liberalismo e do comunismo e de todas as demais desgraças sucedidas até o presente. Diz um velho ditado que a maçã não cai longe da árvore.

Que é o homem moderno com seu materialismo senão uma casca enfeitada com o material mais precioso, mas fraca e vazia. Faz-se igual à figueira relatada por São Marcos em seu Evangelho (cf. Mc XI, 13-14): tão bonita e majestosa com suas folhas, mas sem figos. Árvore de aparência tão enganosa como o homem moderno, criado para ser um megalômano e ostentar uma grandeza que não possui.

É a sociedade onde os hospícios tratam os sãos e estimulam os loucos; criam a insanidade ao invés de saná-la. O mundo moderno é a definição do bizarro, verdadeira peça de teatro macabra e de péssimo gosto.

Na grotesca e monstruosa sociedade em que vivemos, a Quarta-feira de Cinzas vem para anunciar ao homem moderno que do pó ele veio e ao pó voltará. De fato, é uma lembrança desagradável para um ser tão depravado e animalesco quanto o homem moderno, que cede às mais baixas paixões e instintos desordenados; que soberbamente põe-se nas alturas mais elevadas.

Enquanto a megalomania eleva o homem à grandeza que não possui, a simplicidade do pó o rebaixa ao que ele realmente é. É o contraste da Cruz, onde o símbolo da morte tornou-se a via da salvação.

Nesta Quarta-feira de Cinzas, dia santo em que iniciamos a Quaresma, que grite a consciência daquilo que realmente somos, para que a nossa escolha não seja o engrandecer da modernidade, mas o diminuir da Cristandade.

segunda-feira, 4 de março de 2019

Apresentação

Este espaço nasceu da minha vontade e das pacientes ajudas do meu amigo e xará J.C. Bulla, do blogue Advocatus Fidei – que aliás já fica recomendado para vocês –, que me ajudou com as ferramentas blogueirísticas; e do Prof. Sérgio Pachá, que me ajudou com as correções para o latim.

Tratarei aqui dos mais diversos assuntos. É um blogue de aleatoriedades: história, poesia, filosofia, críticas, aquilo que der na telha.

O nome deste blogue, "Adversus Modernitatem", é latim para "Contra a Modernidade". Modernidade aqui deve ser entendida não no sentido de avanço e progressão tecnológica, mas a modernidade amputadamente ideológica, da mentira, da falsidade e do iluminismo; do liberalismo da caótica Revolução Francesa e do marxismo da infame Revolução Russa; a modernidade da Revolução Marcusiana que bate às nossas portas; a modernidade da loucura e do hedonismo; do laicismo e do secularismo; a modernidade do anti-Igreja, do anti-Cristo, do anti-Deus.

Professamos integralmente a Religião Católica Apostólica Romana, Única e Verdadeira Religião, e cremos nas verdades reveladas por Deus e ensinadas pela Sua única e Santa Igreja. Tendo a Santa Cruz como estandarte e a proteção da Santíssima Mãe de Deus, avancemos pela difusão da Verdade, pela extensão do Reinado de Nosso Senhor e pela busca da santidade.

Abraçados à Santa Cruz, gloriemo-nos nEla.

Stat Crux dum volvitur orbis.